Ela chegou como quem chega de repente, sem aviso prévio, segundas intenções, por pura coincidência ou obra do destino, mesmo eu não acreditando nenhum pouco nesse papo de destino. De peito aberto ela se deixou levar, se entregou como quem se entrega ao mar num mergulho intenso.

E ela riu, ô se riu, de todas as suas piadas sem graça, adorava o tanto de assunto que vocês tinham em comum, e ficava feliz sempre que você a chamava depois de horas, mesmo sendo só para mostrar o que estava fazendo, comendo ou ouvindo.

Aquela garota se interessou por todo o seu mundo, cara. Ela queria conhecer o seu eu mais profundo, seus medos, seus sonhos. Quis saber da sua família e o que você planejava fazer no próximo domingo. Ela esperou, como uma criança que espera pelo dia do seu aniversário, certa que você seria o melhor presente para ela.

E você foi, ao menos aquele dia que se permitiu ser isso para ela, você foi um grande presente que hoje ela relembra quase todos os dias, apenas um dia foi o suficiente para você marcar ela. Ela lembra com clareza do cheiro daquele seu perfume doce, mesmo não sendo um de seus preferidos, e daquela sua risada gostosa, que chegava a preenche-la.

Mas ela entende, certos momentos não voltam, nem se prolongam, apenas existem naquele pequeno espaço meio a nossa linha do tempo. Deixam saudade de momentos vividos apenas por algumas horas, que mais pareciam anos, ressalto. Mas uma saudade gostosa, de satisfação, de quem não precisou mais que poucas horas para saber o que era melhor para ela naquele momento, você era.